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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Entrevista: Álvaro Ferreira (ACD Pica) deixa de jogar futebol aos 41 anos

Texto e foto: João Carlos Lopes 

“Dei sempre o meu máximo em cada treino e em cada jogo”

Álvaro Ferreira entendeu que era o momento de pendurar as chuteiras mas não o fez numa idade qualquer mas sim aos 41 anos quando ainda se sentia com capacidade física para treinar e jogar mais uma temporada. Este funcionário bancário, com licenciatura em Informática e Gestão, caracterizou-se sempre pelo empenho que colocava a treinar e a jogar numa vida de futebolista que se prolongou por três décadas e em que foi sempre o exemplo para os mais novos e em alguns casos até para os mais velhos. A sua atitude dentro de campo nunca passou despercebida a ninguém. Poia ter ido mais longe no futebol mas quando havia possibilidade para tal optou por dar prioridade aos estudos e hoje não se arrepende de o ter feito. A ACD Pica perde um médio de referência e um dos capitães da equipa, na última dúzia de anos que se tornou num símbolo do Clube onde irá continuar a treinar uma equipa das camadas jovens. Entrega, abnegação, raça e muito querer são alguns dos muitos adjectivos que se adaptam na perfeição a este médio ala direito que era também uma referência no balneário do Clube. 


Ainda se lembra do primeiro jogo de futebol em que participou?

O primeiro jogo em que participei foi num Fafe- Vitória de Guimarães a contar para o campeonato distrital de iniciados que por acaso vencemos. Nessa altura o capitão da equipa era o Paulo Cavadas. Depois disso representei todos os escalões do Fafe até aos juniores. 

Que Clubes representou depois como sénior?

Assinei pelos seniores da AD Fafe mas como estava a estudar na universidade e havia dois treinos por dia não dava para conciliar e acabei por ser emprestado ao Mondinense. Depois vim para a ACD Pica onde estive dois anos, ingressei posteriormente cinco anos no OFC Antime onde subimos à divisão de Honra que na altura correspondia ao Pro-Nacional de agora. Passei ainda pelo Atlético Cabeceirense, por três temporadas, onde subimos à 3.ª Divisão Nacional, seguiu-se o Vieira SC de onde regressei à Pica por uma dúzia de épocas seguidas. 


Qual o Clube que mais o marcou em toda a carreira?

Foi mais que um. Primeiro o Fafe que me abriu as portas do futebol e me formou como homem. Depois o Antime porque foi lá que aprendi o que era o futebol e tinha um grupo de jogadores e amigos à moda antiga que nunca mais voltei a encontrar na carreira. Por último mas o mais importante de todos, a Pica, por tudo o que representa para mim, pois sentia-me como peixe na água, quer em termos desportivos quer no acolhimento. Foram muitos anos a criar raízes que jamais serão cortadas. Por isso estou eternamente grato a este clube por tudo que me proporcionou e me fez sentir no futebol. 

Houve alguma pessoa que jamais esquecerá nestes anos todos?

Como atletas há dois jogadores a quem me senti sempre ligado que foram o Richa e o Davide, ainda que tenham existido outros com quem criei grandes laços de amizade. A nível directivo o Francisco Oliveira e o António Cunha “Toninho”. Como treinadores tive dois treinadores que me marcaram imenso, o José Maria Fangueiro que na altura já era um visionário do futebol e o António Valença, que era um autêntico sábio e um grande líder. Se bem que guardo boas recordações de todos e cada um à sua maneira me marcaram, pois aprendi com todos eles.


Acha que podia ter chegado mais longe enquanto futebolista?

Sem dúvida que sim. Caso não tivesse feito a opção de ir para a faculdade, mas a vida é feita de opções. No entanto, chegando ao final da minha carreira não estou arrependido das decisões que tomei. 


Qual o momento mais alegre que viveu enquanto jogador?

As subidas de divisão marcam-nos de uma forma diferente, pelas alegrias que nos proporcionam e por nos fazer sentir que valeu a pena todo o esforço. 


E o mais triste?

É totalmente o inverso as descidas de divisão porque também as tive. Graças a Deus em 30 anos de futebol nunca tive uma lesão grave mas sei o que isso é porque assisti a uma de um colega de equipa bem de perto, uma rotura total do tendão de Aquiles, num treino, que é uma das lesões mais graves no futebol. 


Recorda-se de quantos golos marcou? 

Nunca tive por hábito apontar os golos que marquei mas posso dizer que no total foram seguramente mais de cem, não sendo essa a minha principal função dentro de campo, uma vez que actuava em terrenos mais recuados do campo. 


Algum desses golos foi mais importante que os outros todos? 

Há um que nunca mais me esquece que foi pelos Juniores do Fafe contra o Gil Vicente. Tenho a noção que também marquei alguns golos que valeram vitórias às equipas que representava. 


O que sente um jogador quando vê a carreira a aproximar-se do fim?

Nunca estabeleci uma meta para terminar a carreira de futebolista porque me senti sempre com disponibilidade física para fazer uma época atrás da outra. Posso dizer que ainda me sentia capaz de fazer mais uma temporada sem qualquer problema a nível físico e ao nível da Divisão de Honra que é a do Pica. 


Porque decidiu que não queria continuar a jogar mais futebol? 

Era uma decisão que estava tomada a algum tempo mas faltava-me o motivo. O que me levou a abandonar era dar prioridade a outras coisas, deixar espaço para os mais novos e como não sei estar no desporto que não seja a cem por cento entendi ser agora o momento mais certo e oportuno para abandonar a carreira para não manchar um percurso imaculado construído ao longo de 30 anos em que raramente faltava a um treino e dei sempre o meu máximo em cada treino e em cada jogo que participei. 


A que se deve a sua longevidade no futebol?

Considero que sempre tratei o meu corpo e levei uma vida regrada de maneira a que estivesse sempre apto a responder às exigências do futebol em todos os sentidos. Tive sempre o cuidado não fazer noitadas antes dos jogos, o que aliás já não era meu hábito. Evitei sempre as bebidas alcoólicas e tive todos os cuidados que um jogador deve ter para não comprometer a equipa. 


O futebol deu-lhe ou tirou-lhe alguma coisa?

As duas coisas. Por um lado, deu-me muitas alegrias, momentos indiscritíveis, desde amizades para a vida, coisas fantásticas que não se consegue transpor para palavras. Por outro lado, impediu-me de viver uma vida normal, inclusive a nível profissional, pois como disse atrás só sabia estar no desporto a cem por cento. Nesse aspecto o futebol condicionou-me um pouco. Contudo, o balanço é francamente positivo. 


Agora que terminou a carreira de futebolista vai deixar de praticar desporto?

Isso nunca. Para mim nunca existiu defeso, pois mal acabava uma época eu não parava e agora continuo a praticar desporto, seja a correr, andar de bicicleta, fazer ginásio ou jogar futebol com os amigos. 


Vai continuar a treinar miúdos?

De princípio tudo indica que sim, faltando apenas definir qual o escalão sendo certo que o farei na ACD Pica.

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