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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Entrevista ao treinador Rafael Leite, ex-treinador do GD Fareja

Texto e foto: João Carlos Lopes 


“Como treinador não queria estagnar”

Rafael Antunes Leite, é um empresário de 40 anos que devora tudo que diz respeito a futebol. Como jogador percorreu todos os sectores do campo menos a baliza e iniciou a sua carreira de treinador há quatro temporadas no GD Fareja, sendo o responsável pela transição do Clube do Futebol Popular para o Campeonato Distrital. Diz-se ambicioso e é por isso que não continua ao leme do Clube porque não quer treinar por treinar. Gosta de inovar nos treinos e dedica muito do seu tempo a falar com os atletas. Não anda atrás de dinheiro para treinar mas sim de condições físicas de terreno de jogo que lhe permitam colocar em prática todos os seus conhecimentos e ideias. De momento é um treinador livre e à espera de novos projectos. Para já é um treinador livre. 

Qual foi o seu percurso como jogador?

O meu percurso como jogador começou com 18 anos, e joguei 18 anos no Campeonato Popular de Fafe, nos Estrelas Vermelhas, Restauradores da Granja, GD fareja e Ribeiros. Comecei como extremo Esquerdo, passando para avançando, mas a posição que mais gostei de jogar foi a médio centro, terminando na ultima época a central.

Quando decidiu que gostava de ser treinador?

Até aos trinta anos nunca me tinha passado pela cabeça, chegando aos trinta comecei a analisar mais os treinadores que me treinavam e comecei a pensar que poderia mudar muita coisa no futebol praticado pois via um futebol muito directo e sem grandes conceitos de treinos. Então na minha ultima época, ainda em março foi-me feito o convite para treinar o GD Fareja na época seguinte. Comecei logo a trabalhar, estudando tudo aquilo que queria mudar, investindo em muitos livros e softwares de treino. A minha ideia era mesmo mudar completamente a forma de treino.

Que recordações guarda do Futebol Popular?

As recordações que guardo do futebol popular são muito boas. Fiz durante estas épocas todas, muitas amizades, seja a nível de atletas, clubes ou equipas de arbitragem e tive muitas alegrias durante este percurso.

Como correram estas duas épocas no Futebol Distrital?

Estas duas épocas na distrital foram muito boas. A primeira época foi de aprendizagem visto que o futebol distrital requer mais trabalho e mais conhecimento e eu sendo ambicioso retirei muito da primeira época para poder corrigir na segunda. A minha segunda época foi muita mais interessante, com um plantel recheado de grandes atletas e sempre pronto para melhorar os seus conhecimentos. Melhoramos no futebol praticado e de forma excelente a finalização alcançando 47 golos marcados. No capitulo defensivo melhoramos um pouco. A nível pessoal cresci como treinador evoluindo ainda mais nos conceitos de treino, nas palestras com os atletas, fui muito mais observador corrigindo individualmente cada atleta. Só posso retirar coisas positivas com estas duas épocas.

O que o leva a sair do GD Fareja?

O GD Fareja é um clube que ficará no meu coração. É um facto que estas quatro épocas no Fareja tiveram de época para época sempre obejctivos superiores à ultima. Daí a minha vontade de permanecer durante quatro temporadas. Foi-me feito o convite de continuar com minha equipa técnica, mas infelizmente sendo um treinador ambicioso e querendo sempre desafios mais altos, fui franco com a Direção expondo a minha ideia para próxima época, assumindo a subida de divisão, mesmo sabendo que teria muito trabalho pela frente para reforçar o plantel de forma a lutarmos para a subida de divisão. Sabia que GD Fareja não tinha condições financeiras, mas estava pronto a fazer como tenho feito ate ao dia de hoje que era convencer os atletas, com palavras, da forma que a equipa técnica trabalha, dando-lhes vontade de eles quererem integrar o plantel não pelo dinheiro mas pela curiosidade no nosso trabalho. Posso dizer que esta época alcançamos 110 treinos e que pelo menos 90 treinos foram todos diferentes. Isto para o atleta, sabendo que no próximo treino não sabe o que irá fazer é muito bom para a assiduidade, uma vez que durante estas quatro épocas alcançamos uma assiduidade de 87%, com atletas sem receber um cêntimo nem mesmo para gasóleo. Estava pronto para arriscar tudo na próxima época, senti que a direção não estava disposta a este objetivo e então como eu e a minha equipa técnica não queríamos uma época sem objetivos, preferimos arriscar e não permanecer. Eu como treinador não queria estagnar mesmo sabendo que na próxima época poderei não ter clube. Caso aconteça, continuarei os meus estudos para melhorar os meus conhecimentos. Infelizmente, a minha decisão veio abalar a parte psicológica dos atletas, que não estavam a contar com esta decisão. Mas a verdade é só uma, a deque todos atletas, mesmo sabendo, foram grandes, tentando tudo para acabar a época em grande. Sei que faltando cinco jornadas eles mereciam outro desfecho. Senti também que a direção esta época não acompanhou da mesma forma os atletas como noutras épocas. Uma coisa é certa, tanto a equipa técnica como os atletas acabaram a época com a consciência tranquila e nunca atiramos a toalha ao chão.

Qual a sua ambição para o futuro?

Minha ambição para o futuro é muito simples gostaria de implantar o meu conceito de futebol num plantel com um campo sintético, porque sei que o que penso está correto e que com condições de terreno de jogo, visto que tenho muito material de treino tenho a certeza que daria muito que falar. A ver vamos.

Que formação possui na área de treinador?

Neste momento possuo o Nível 1, com alguns diplomas alcançados e outros por terminar. Quero tirar o nível 2 e com desejo de alcançar o terceiro. Mas isso irei avaliar consoante o tempo. O primeiro nível veio simplesmente arrumar-me as gavetas, como devo aplicar os conceitos e sei que apenas um nível não chega para o que desejo, daí ler muitos livros sobre conceitos novos, tornando-se mais fácil com o primeiro nível compreende-los, mas principalmente aplicá-los e explicá-los aos atletas.

Qual o seu grande objetivo como treinador?

Eu simplesmente acredito no meu trabalho e sei o que posso fazer. Hoje não teria problema algum de estar a treinar na Divisão de Honra ou mesmo na Pró-Nacional. No Campeonato Prio, mais dois anos e acho que estaria pronto.

Há algum Clube que gostasse especialmente de treinar?

Em especial, seria um clube da minha terra, não teria receio de trabalhar em qualquer um deles. Mas na verdade e respeitando a atual equipa técnica, o GD Silvares pelo que infelizmente tem passado para manter-se em pé, que é de louvar. Seria para mim um excelente desafio e sei que seria capaz de ajudar a colocá-los no lugar que merecem.

É a favor de muitas ou poucas equipas fafenses no futebol regional?

Acho que quanto mais equipas fafenses no Futebol Regional melhor. Levam o nome da nossa cidade para fora dela. Mas também acho que a Câmara de Fafe poderia investir mais em sintéticos como têm feito noutros concelhos. Seria muito melhor para a formação de atletas e condições de treino. 

Acha que o futebol regional retira algum protagonismo à AD Fafe?

Acho que não, pelo contrário, nem todos os atletas da formação do Fafe têm qualidade suficiente para alcançar a equipa principal, pelo menos logo no final da formação. Com equipas na distrital há a chance de esses atletas evoluírem ainda mais, para, quem sabe, voltar um dia. Se a AD Fafe subir para a segunda liga, ainda se tornará mais difícil para a formação. Daí ser importante haver equipas fafenses na distrital. Ou, quem sabe, o Fafe poder criar uma equipa B para poder evoluir os seus atletas da formação e outros de alguns clubes do Concelho.

O que lhe tem dado o futebol?

O futebol a mim tem me dado tanto que estaria horas a descrever. Mas tenho devorado informação que acho importante para a minha evolução como treinador. Não paro de estudar, porque qualquer treinador que deseja e quer ser diferente tem e deve estar sempre a aprender, ler muito e retirar toda a informação importante para o seu crescimento.

O Futebol já lhe retirou alguma coisa?

(Ui)Já me tirou tantas noites de sono, querer adormecer e não conseguir porque estamos a pensar no jogo e qual a melhor forma de alcançar a vitória, como devemos agir no caso de acontecer isto ou aquilo. Muitas horas do dia a conversar com atletas para ajudá-los muitas vezes no plano cognitivo. Felizmente a minha vida profissional possibilita-me tirar horas do dia para dedicar ao futebol. Tenho a sorte de ter uma esposa e filha que adoram futebol e me acompanham sempre. Para quem ama o futebol acabamos por fazer tudo isto sem qualquer sentimento de nos passar pela cabeça que o futebol retira-nos algo. Claro que tudo isto é minha opinião porque tenho a sorte de ter uma família que gosta também.

Há alguma coisa que gostasse mais de dizer? 

Aproveito para felicitar o Regadas pela subida de divisão e desejo que o Silvares possa voltar ao lugar que merece, Ao Antime, sendo um clube muito organizado, sabendo que seria fácil manter-se na Pró-Nacional lutaram até ultimo fôlego, quero dar-lhe um abraço também. Ao Travassós que tem passado por muitas dificuldades e os seus atletas têm sido grandes, desejo-lhes felicidades. À Pica desejava que conseguissem a subida mas não sendo possível que lutem por ela na próxima época. Não poderia deixar de falar do Arões que também tem lutado para a manutenção e desejo que consigam alcançar a permanência no CPP. Termino com a AD Fafe, que tem feito uma belíssima época desportiva e merecem subir de divisão pelo grande trabalho e direção, da equipa técnica e dos seus atletas.

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