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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Entrevista: Jorge Fernandes – Presidente Comissão Administrativa AD Fafe

Texto e fotos: João Carlos Lopes


“Temos feito tudo para dar uma nova imagem ao Clube”

O empresário Jorge Fernandes tem 43 anos e está a tentar recuperar a mística da AD Fafe, que dirige em Comissão Administrativa, numa luta diária, quase titânica mas acreditando sempre que o Clube vai sobreviver e sair mais forte desta situação. Desde que assumiu os destinos do Clube cortou com as “gorduras” do mesmo e pretende manter o Fafe mais elegante, com uma gestão corrente rigorosa mas assombrada pelos problemas herdados do passado. Nesse sentido, reduziu substancialmente aos orçamentos das últimas épocas, negociou dívidas e fez melhorias nas infra-estruturas. Há algumas situações graves por resolver mas quando se abrir pelo menos uma porta, os problemas serão menores e o Clube começará a respirar melhor. Em entrevista fala-nos do passado, mas de forma apaixonada e essencialmente do presente, notando-se uma vontade enorme de devolver a AD Fafe aos dias gloriosos, contando para isso com a boa vontade dos sócios, simpatizantes e todos os fafenses, convidando-os a apoiar o Clube e a marcar presença nos jogos no Estádio Municipal, porque o motor dos clubes continuam a ser os resultados desportivos. 


Como se deu a sua entrada na AD Fafe?

Em 2002/03, perto do Natal, convidaram-se para treinador do Clube para substituir o técnico dos Infantis. Foi um trabalho que me agradou e que até deu frutos na época seguinte pois fomos campeões Distritais no mesmo escalão. Mantive-me como treinador até 2009/2010 na equipa de Iniciados. Recordo que nessa altura toda a formação fafense não atingia os cem atletas. 

Em que circunstâncias chegou a um cargo de Direcção?

Em 2011/2012 o Clube estava com graves dificuldades financeiras e dois directores da altura abordaram-me mo sentido de ajudar naquilo que pudesse, sendo certo que o presidente era o Albino Salgado. Fui ocupar o cargo de vice-presidente para a formação. Contudo, desde logo, comecei a assumir outras responsabilidades. 

Que tipo de responsabilidades? 

Na prática já geria o Clube mas quem dava a cara e a decisão final era o presidente Albino Salgado. Recordo-me que nessa altura haviam três meses e meio de salários em atraso, os quais viemos a pagar. Numa das reuniões habituais do Clube, propus que houvesse uma redução de vencimentos aos atletas bem como de custos gerais, tendo aliás, colocado isso como condição para a minha continuidade, sendo verdade que viemos a reduzir as despesas correntes em cerca de 40 por cento. Na verdade, o Clube estava a viver acima das suas possibilidades e não podia ir além disso.

Desde aí foi sempre a reduzir nos orçamentos? 

Foi isso mesmo que aconteceu até à presente temporada, em que apesar da mesma estar orçada em valor inferiores aos da época passada acaba por ter mais custos porque também temos mais quatro atletas. 

De onde derivam os principais problemas financeiros do Clube?

O grande bloqueio do Clube prende-se com dívidas fiscais para com a Segurança Social que já se arrastam desde 1993 e que em 1997 eram de 50 mil euros as quais já ascenderam em 125 mil, devido a coimas e juros. É uma situação que estamos a trabalhar e que está em contencioso. Outra dívida à Segurança Social ocorrida entre 2005 e 2011, ascendeu a 160 mil euros os quais aumentaram com juros e coimas para 260 mil. Esta última situação já está negociada e deverá ser paga no prazo de cinco anos, com um grande esforço financeiro. 
Como está o Clube a tentar resolver a situação?

Estamos a trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal para encontrar as melhores soluções para desbloquear este problema e penso que está tudo bem encaminhado e que até ao final do mês de Setembro possa estar resolvido.

O Fafe não tem outras dívidas importantes?

De facto tem. Como é do conhecimento público tem a dívida ao ex-presidente Albino Salgado, ao empresário Albano Costa e a dois ex-funcionários do Clube (motorista e massagista) com os quais negociamos a dívida, estando já a pagar as respectivas prestações. Relativamente ao senhor Albano Costa, agradecemos o facto de ter perdoado os juros e ficamos de lhe pagar o capital em prestações. Em relação ao ex-presidente estamos a estudar a situação. Não nos podemos esquecer dos salários dos atletas que estão em atraso, quatro meses em relação à época transacta, os quais ficarão resolvidos a partir do momento em que forem libertadas as verbas que estão cativas na Câmara. Refiro que esta situação está esclarecida com os atletas aos quais agradecemos o seu comportamento e compreensão para com os problemas do clube, revelando paciência e profissionalismo. Eles sabem que não descansamos enquanto não resolvermos esta situação. 


Conseguiram sanar outras dívidas importantes?

Existia uma dívida de 32 mil euros à Lacatoni a qual já está paga. O mesmo sucedeu com a AF Braga, relativa a inscrições, no valor de 24 mil euros. Ainda saldamos uma dívida de perto de seis mil euros à Indáqua. Reduzimos ainda uma dívida de 20 mil para dez mil euros para com a Federação que se prendia com as percentagens da organização de jogos. Isto as mais relevantes entre outras de menor valor mas não menos importantes. 

No período da sua gerência que obras de relevância foram feitas? 

Contando com o ano em que estive a vice-presidente há a ressalvar as seguintes obras: introdução do piso sintético no Campo n.º 2, bem como a respectiva rega, electrificação e gradeamento. Arrevalmento do campo principal, rebaixamento nas grades que separam a banca do campo, criação do departamento médico para a formação, melhoria dos balneários e arrecadação da formação, substituição das máquinas de aquecimento da água para os banhos, substituição do motor de rega do campo n.º 1 e melhoramento das instalações sonoras. Tudo isto junto corresponde a um investimento avultado que passa despercebido a quase toda a gente mas que não deixou de ser feito, por grande necessidade e para melhoramento das condições dos atletas e publico em geral. 

Quais são as principais fontes de receita do Clube? 

Os proveitos vêm da quotização dos cerca de 1100 sócios. Da publicidade estática, da receita de bilheteira. Este ano estamos satisfeitos por ter conseguido quatro patrocinadores, número permitido por lei, nas camisolas dos seniores. Nos juniores arranjamos três patrocinadores e estamos a negociar para o resto da formação, uma vez que os campeonatos não arrancam por ora. Quero referir ainda que se conseguiu rentabilizar dois espaços do Clube, o Bar e o Ginásio. Existe ainda uma área de cerca de 400 metros quadrados que serve para armazém, para o qual estamos à procura de um arrendatário e que se localiza praticamente no centro da cidade, mesmo ao lado do Centro de Saúde.

Como se encontra a situação do autocarro? 

Derivado ao facto do autocarro ter estado muito tempo parado, desde há dois anos a esta parte que decidimos restaurá-lo todo de chaparia e pintura. Na época de 2012/2013 a mesma viatura serviu para transportar a equipa de juniores e seniores sem sinais de problemas. Já em 2013/2014 começaram a surgir, a partir do meio da época, problemas relacionados com a mecânica. Tendo em conta que os consertos eram avultados, pedimos apoio no sentido de alguém da área nos ajudar, ficando sujeitos à disponibilidade dessas pessoas. Entretanto, como temos cinco viaturas que estão em bom estado e tem todas as comodidades para efectuar o transporte, temo-nos socorrido das mesmas, até que a situação do autocarro esteja resolvida, sendo verdade que estamos a contar com o mesmo já para a próxima deslocação.

O que se passou para as recentes iniciativas sociais do clube não terem sucesso?

Recentemente tentamos organizar um Convívio de Futebol para os ex-atletas do Clube e uma festa à qual chamamos “Dia da AD Fafe”. Nem um nem outro evento tiveram o eco que esperávamos. Relativamente ao Convívio de Futebol, creio que o mês de Agosto não era o mais propício para o efeito. Em relação à festa, talvez tenha sido por muita gente estar de férias e existirem muitas festas populares espalhadas pelas freguesias. Desde já agradecemos o contributo do senhor Raul do Intermaché, do senhor José Silva, das Padarias Silva, ao Fernando Machado da Padaria Doce Retiro, aos Vinhos Campelos e ao Estúdio D. 

Em que ponto está a formação do Clube? 

A formação está entregues aos vice-presidentes José Fonseca e Joaquim Leite e tem como coordenador o Professor Ivo Castro. De momento temos dez equipas, número que pode crescer até ao início de todos os campeonatos. A formação da AD Fafe abrange os escalões de Sub-8 até aos Sub-19 e todos eles, à excepção dos Sub-19 (Juniores) vão ter duas equipas federadas. Tudo num total de 210 atletas e que envolvem mais trinta e três colaboradores desde treinadores a fisioterapeutas, massagistas, delegados aos jogos e secretariado. 

Quais são as condições para um atleta jogar na formação do Fafe?

Existe o custo com os equipamentos, vulgo “Kit”, que custa 80 euros para não sócios reduzindo para 60 euros a quem for sócio. Além disso existe uma mensalidade no valor de 15 euros para todos os atletas. Infelizmente temos que cobrar estes valores porque o número de atletas é elevado e há custos inerentes a inscrições das equipas, bem como despesas correntes. 

O campo n.º 2 vai sofrer alguns melhoramentos?

Estamos a fazer todos os esforços para dotar a bancada de uma cobertura que permita ao público e aos pais dos atletas que esperam pelos mesmos no final dos treinos melhores condições, essencialmente nos dias frios e chuvosos. Da mesma forma estamos a tratar de terminar as casas de banho junto dessa mesma bancada. 

A formação tem dados os frutos esperados?

Dada a proximidade geográfica entre a cidade de Fafe e de Guimarães e Braga, localidade esta onde está sediada uma escola do Benfica, temos vindo a perder jovens talentos em todos os escalões. Tudo isto derivado à legislação existente que acaba por favorecer Clubes que têm outros recursos para aliciar os jogadores. Mesmo assim temos feito o esforço de fazer subir aos seniores anualmente alguns atletas. De referir que nesta temporada subiram mais três juniores. 

Como foi possível fazer arranjar o plantel sénior numa semana?

Sabendo de antemão que dificilmente aparecia uma lista para liderar o Clube, fomos fazendo o trabalho de casa. Com o decorrer da época passada fomos referenciando jogadores que eventualmente nos interessavam para esta nova temporada, preparando-a antecipadamente. Dado o impasse directivo que se criou perdemos alguns atletas influentes, o que acontece pelo segundo ano consecutivo, o que nos obrigou a recorrer a essa “bolsa” de atletas referenciados. Felizmente estavam quase todos livres o que nos permitiu reunir um bom lote de jogadores em tão pouco tempo. 

NF – Qual é na realidade a intenção do Fafe para este campeonato?

JF – Não vou esconder que a nossa ambição é ficar num dos dois primeiros lugares nesta primeira fase. Apesar da actual realidade do Clube não deixamos de ser uma referência neste campeonato quanto mais que somos nesta série em que estamos inseridos a única equipa que já passou pela 1.ª Divisão. Um clube como o Fafe num campeonato como este tem que ter sempre essa aspiração, mais que não seja para manter os atletas e o público motivados porque doutra maneira não faz sentido. 

 Acredita no valor do actual plantel?

Considero que individualmente temos uma equipa muito equilibrada. Tenho visto desde que começou a pré-época uma equipa com atitude e com ambição e isso faz-me acreditar que os resultados esperados vão aparecer. Percebemos que realmente na época passada o plantel foi curto, daí existirem mais quatro atletas esta época, os quais permitem mais soluções à equipa técnica. 


N.F. - Como se encontra a secção de Natação? 

J.F. - A Natação está bem e recomenda-se. É uma secção que trabalha muito bem e consegue ser auto sustentável, movimentando largas dezenas de atletas, com excelentes resultados obtidos, fruto de um trabalho sério e dinâmico e que muito tem dignificado a AD Fafe, deixando uma excelente imagem do clube por onde passa. Tem tido ao longo dos anos campeões regionais e nacionais e levado nadadores e treinadores a estágios de Selecção, o que no fundo é um reconhecimento pelas altas entidades do trabalho efectuado pelos responsáveis da secção de natação fafense. 


Que apelo faz aos sócios e simpatizantes nesta altura?

Temos feito tudo para dar uma nova imagem ao Clube, tentando, aos poucos, recuperar o respeito e a mística que já fizeram da AD Fafe um dos Clubes mais respeitados a nível nacional. Os tempos são outros mas a vontade de dignificar a instituição é a mesma. Só remando todos para o mesmo lado podemos devolver a dignidade ao Clube. Por isso faço um apelo a todos os sócios, simpatizantes e à população em geral para ajudarem o Clube naquilo que puderem e acima de tudo para marcarem presença no estádio Municipal aos Sábados para apoiar a formação e aos Domingos para o fazerem com os seniores. Só com a junção da vontade de todos o clube consegue sair da situação que está e voltar a ser uma referência respeitável no panorama desportivo.
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